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processo de criação //// ignorância



Somos todos ignorantes, sobre isso não há dúvida. Todos os dias quando acordamos, antes mesmo de abrirmos os olhos, lá está ela, ao nosso lado. Crescemos e nos movimentamos pelo mundo em companhia dela. Nos envolvemos com outros seres, olhamos e somos olhados sempre a partir dela: nossa turva e espessa ignorância.

Essa palavra se fez presente para nós desde os primeiros ensaios e, aos poucos, fomos nos movimentando e nos posicionando à sua volta. Nossos confrontos diários na sala de ensaio nos revelavam imagens, nos propunham estados e nos mostravam fronteiras a serem transpostas. Foram noites quentes, em todos os sentidos. Pela primeira vez, criamos um espetáculo em cinco meses, logo nós, acostumados a longos processos de criação coletiva. Decidimos não mirar tanto antes de atirar e descobrimos que o alvo não estava à nossa frente, mas dentro de nós. Tivemos o privilégio de contar com novos olhares externos e de inaugurar laços com parceiros inéditos. Estivemos mais expostos, mais vulneráveis, incertos, abertos. Nos desafiamos também: agora dois em cena e dois como olhar de fora. Um modo de reconstruirmos nossa arquitetura.

Ignorância, para além de um espetáculo, foi um percurso iniciado no chão, no solo duro onde os primeiros homens se sentavam. E então encontramos as cadeiras, essa tecnologia milenar fabricada para sustentar o nosso peso, como se não pudéssemos sustentá-lo sozinhos. Esquecemos o início de tudo. Ignoramos o passado, o presente, o futuro. E a humanidade segue. Rindo e chorando da sua própria ignorância.



Pela primeira vez o grupo se dividiu em atuação (Italo Laureano e Rejane Faria) e direção/dramaturgia (Marcos Coletta e Assis Benevenuto), como uma maneira de encontrar novas relações de trabalho e criação dentro de um grupo que pratica a criação coletiva e a dramaturgia autoral há oito anos. Porém, mesmo com a divisão de funções, o processo de Ignorância se revelou tão coletivo quanto os anteriores, confirmando a solidez e a coerência de uma linha de pesquisa artística desenvolvida ao longo dos anos.

O discurso de Ignorância se propõe político e poroso, evitando os discursos prontos e as verdades unívocas para abordar o estado da ignorância sob diferentes ângulos e matizes. Os atores conduzem cinco breves situações conectadas por um jogo com trinta cadeiras de madeira espalhadas pelo palco.  As cenas, cômicas e dramáticas, expõem contrastes sobre a ignorância humana e questionam o que chamamos de progresso civilizatório.


A equipe de Ignorância traz artistas que trabalharam pela primeira vez com o grupo, como o iluminador Rodrigo Marçal, a bailarina Rosa Antuña, a pesquisadora vocal Ana Hadad, a figurinista Lira Ribas e o produtor musical Barulhista. O grupo também repete boas parcerias, como o cenógrafo Ed Andrade, agora com o reforço de Cristiano Cezarino, e os designers Filipe Costa e João Emediato, da Lampejo. Em cinco meses, o grupo concebeu o texto e a encenação deste espetáculo, sendo a criação mais rápida realizada pelo Quatroloscinco até o momento. O processo também incluiu uma série de ensaios abertos para convidados como o dramaturgo Vinícius Souza, a diretora Sara Rojo, o ator Paulo André, a produtora Grazi Medrado e o diretor Eid Ribeiro, entre outros, que chamamos de "observadores de criação".

+ Leia o texto de Barulhista sobre a criação da trilha sonora de "Ignorância".

O Quatroloscinco estreia pela quarta vez consecutiva na Funarte MG, estreitando ainda mais a sua relação afetiva com este espaço. Ignorância foi construído com verba própria do grupo, sem qualquer patrocínio ou edital de fomento.

Equipe de Criação
Texto e Direção: Marcos Coletta e Assis Benevenuto
Atuação: Rejane Faria e Italo Laureano
Orientação Vocal: Ana Hadad
Orientação Corporal: Rosa Antuña
Cenografia: Eduardo Andrade e Cristiano Cezarino
Figurino: Lira Ribas
Iluminação: Rodrigo Marçal
Trilha Sonora Original: Barulhista
Observadores de criação: Eid Ribeiro, Graziella Medrado, Paulo André, Sara Rojo e Vinícius Souza
Projeto Gráfico: Filipe Costa e JM Emediato - Lampejo
Fotografia de Divulgação: Felipe Messias
Fotografia de Cena: Guto Muniz - Foco in Cena
Assessoria de Imprensa: V5 Agência de Comunicação
Video: Janaína Patrocínio - JPZ Comunicação
Produção: Maria Mourão
Realização: Quatroloscinco - Teatro do Comum

Foto: Felipe Messias